É seguro carregar carro elétrico no poste? Entenda os riscos dessa prática

É seguro carregar carro elétrico no poste? Entenda os riscos dessa prática

A cena chamou atenção. Um carro elétrico estacionado na rua, um fio saindo de um poste de energia e, no meio disso tudo, o improviso: a tentativa de abastecer a bateria do veículo diretamente da rede pública. 

Esse episódio, registrado em vídeo e amplamente compartilhado nas redes sociais, levantou uma questão séria: é mesmo seguro carregar carro elétrico no poste?

A resposta é clara: não. Embora o avanço da mobilidade elétrica seja motivo de comemoração em todo o mundo, há práticas que colocam essa revolução em risco. Entre elas, está o hábito perigoso, e ilegal, de fazer ligações clandestinas para carregar veículos.

Neste artigo, confira os riscos técnicos, legais e sociais dessa prática. Vamos entender por que ela é perigosa, o que dizem os especialistas e como deve ser feito o carregamento correto e seguro de um carro elétrico.

O início de tudo: A cena que viralizou

Recentemente, um caso ocorrido em uma cidade brasileira despertou a curiosidade e a preocupação de especialistas. Um carro elétrico foi visto plugado diretamente em um poste, utilizando a energia da rede pública para carregar sua bateria. 

O fio saía da estrutura urbana e se conectava diretamente ao veículo, numa tentativa de improvisar uma fonte de abastecimento.

Esse tipo de ligação é conhecido popularmente como gato, uma conexão elétrica feita sem autorização da distribuidora, sem medição de consumo e, principalmente, sem nenhuma segurança.

Esse acontecimento, embora isolado, revela uma realidade preocupante: a falta de conhecimento sobre os riscos do carregamento indevido e as limitações da infraestrutura de recarga em muitas regiões.

Como funciona o “gato” no contexto do carro elétrico

O termo “gato” é comum quando se fala em furto de energia elétrica. Ele ocorre quando uma instalação é conectada à rede sem passar por um medidor oficial, ou seja, sem controle ou cobrança adequada.

No caso de um carro elétrico, o processo é semelhante: um fio é puxado diretamente do poste, conectando-se ao veículo. 

Mas ao contrário de aparelhos domésticos, que geralmente exigem menos energia, um carro elétrico precisa de uma quantidade considerável de potência para carregar sua bateria, o que torna a situação ainda mais crítica.

É tecnicamente possível? Sim. É seguro? Não.

De fato, é tecnicamente possível extrair energia elétrica de um poste, como acontece em ligações clandestinas para alimentar residências. 

Os postes urbanos geralmente operam com redes trifásicas ou bifásicas, dependendo da localização e da infraestrutura elétrica.

Isso significa que, com os equipamentos certos, é possível retirar energia suficiente para alimentar uma residência, ou até mesmo carregar um carro elétrico. Mas o grande problema está no como essa energia é acessada e utilizada.

Sem os dispositivos corretos de controle de tensão e corrente, o carregamento torna-se altamente instável. E, quando se trata de um carro elétrico, a instabilidade não é apenas um risco: é uma ameaça direta à integridade do veículo e à segurança pública.

Os principais riscos de carregar um carro elétrico diretamente do poste

1. Choque elétrico

A ausência de proteção, aterramento e isolamento adequados torna essa prática extremamente perigosa. 

Qualquer falha, contato com fiação exposta ou sobrecarga pode causar choques graves, inclusive fatais.

2. Curto-circuito e incêndio

A rede elétrica pública opera com oscilações e picos que são controlados em instalações regulamentadas por disjuntores e outros sistemas. 

Quando essa proteção é ignorada, as chances de curto-circuito aumentam significativamente, podendo provocar incêndios tanto no veículo quanto nas redondezas.

3. Danos à bateria e ao sistema interno do carro

Um carro elétrico possui sistemas complexos que regulam o carregamento da bateria, protegendo o equipamento de sobrecargas, picos de tensão e corrente inadequada. 

Ao ligar o carro diretamente à rede, esses sistemas podem ser comprometidos, levando a danos permanentes à bateria e ao sistema de controle.

4. Invalidação da garantia

Qualquer dano causado por uso incorreto ou instalação inadequada pode levar à perda de garantia do veículo. Isso significa que, além do risco físico, o motorista ainda pode arcar com altos custos de reparo.

5. Apagões em larga escala

Ao puxar energia diretamente de um transformador, o impacto não se limita ao veículo. Há o risco de sobrecarga da rede, provocando quedas de energia em várias residências próximas. Um único carro conectado indevidamente pode deixar ruas inteiras no escuro.

O impacto coletivo do furto de energia

O furto de energia, além de ilegal, afeta financeiramente toda a população. Quando alguém realiza uma ligação clandestina, o consumo “invisível” precisa ser compensado. 

Essa compensação vem por meio das chamadas perdas comerciais das distribuidoras de energia, que são rateadas entre todos os consumidores da região. Ou seja: todos acabam pagando por um consumo que não fizeram.

As tarifas sobem, a qualidade do serviço diminui e a segurança da rede fica comprometida. O prejuízo é coletivo, e isso também reforça a urgência de combater esse tipo de prática.

Por que algumas pessoas recorrem ao poste para carregar o carro elétrico?

Existem algumas razões para essa atitude, que vai desde o desconhecimento técnico até questões econômicas ou estruturais. A seguir, alguns dos motivos mais citados:

falta de pontos públicos de recarga: apesar do crescimento do mercado de veículos elétricos, ainda existem muitas cidades sem estrutura adequada de carregamento.

custo elevado de instalação doméstica: instalar uma estação de carregamento em casa pode envolver adaptações elétricas, mão de obra especializada e aquisição de equipamentos.

desinformação: muitos motoristas não têm conhecimento dos riscos envolvidos e veem a ligação direta como uma solução simples e rápida.

Mas nenhuma dessas razões justifica o risco que essa prática representa para a segurança pública, o sistema elétrico e o próprio veículo.

O que dizem os especialistas

Profissionais de engenharia elétrica alertam para os perigos desse tipo de ligação. Além dos danos físicos, existe um risco sistêmico: a sobrecarga da rede urbana, a possibilidade de incêndios e até o comprometimento de transformadores que alimentam diversos imóveis.

Engenheiros explicam que, mesmo com algum conhecimento técnico, é impossível garantir segurança em uma ligação clandestina, já que ela não segue os protocolos de proteção definidos por normas técnicas nacionais.

Além disso, veículos modernos contam com sensores e sistemas que bloqueiam o carregamento caso identifiquem instabilidade ou energia fora dos padrões, mas isso nem sempre é suficiente para evitar danos.

O que dizem as concessionárias de energia

As distribuidoras de energia também são unânimes: somente profissionais autorizados podem intervir na rede elétrica pública. Fazer isso por conta própria, além de crime, representa uma ameaça à infraestrutura da cidade.

Caso uma fraude seja identificada, os responsáveis podem responder criminalmente, com pena que varia de um a oito anos de prisão. Além disso, há cobrança retroativa da energia utilizada e aplicação de multa.

E mais: mesmo o titular da conta de energia pode ser responsabilizado, ainda que não tenha feito a ligação por conta própria.

A legislação e as normas técnicas

As normas técnicas brasileiras, como a NBR 5410 e a NBR 17019, são claras sobre os critérios de dimensionamento e proteção de circuitos elétricos de baixa tensão. 

Essas normas também especificam os requisitos para instalação e uso seguro de carregadores de veículos eletrificados.

Ignorar essas diretrizes é infringir a lei, e colocar em risco vidas, patrimônios e equipamentos públicos.

Alternativas seguras para carregar um carro elétrico

Felizmente, existem formas seguras e regulamentadas de carregar um carro elétrico. A seguir, algumas das opções mais adequadas:

1. Carregamento residencial com tomada dedicada

Em casos emergenciais, é possível carregar o veículo em uma tomada doméstica, desde que ela seja dedicada, aterrada e equipada com disjuntores. 

O tempo de carregamento é mais lento, mas é seguro quando feito corretamente.

2. Wallbox residencial

Esse equipamento é instalado por profissionais certificados e permite carregamento mais rápido e eficiente, com controle de tensão e proteção contra sobrecargas.

3. Estações públicas de recarga

Muitas cidades já contam com postos de recarga em supermercados, shoppings, estacionamentos e rodovias. Esses pontos são regulamentados e seguros, além de oferecerem tecnologia compatível com diferentes modelos de carros elétricos.

O papel da infraestrutura pública

Para que práticas como o “gato” deixem de ocorrer, é fundamental que a infraestrutura acompanhe o crescimento da frota elétrica. 

É necessário investir na instalação de carregadores públicos, fomentar políticas de incentivo para instalações residenciais e conscientizar a população sobre os riscos do carregamento clandestino.

A evolução da mobilidade depende diretamente do planejamento urbano e da modernização da rede elétrica, um desafio que envolve governo, empresas e sociedade.

Como garantir um carregamento seguro

Se você já tem ou está pensando em adquirir um carro elétrico, siga essas recomendações para garantir uma recarga segura:

  • Consulte um eletricista qualificado para avaliar sua rede doméstica;

  • Instale um carregador com selo de segurança e compatível com o seu modelo;

  • Nunca utilize extensões ou gambiarras para conectar o carregador;

  • Evite carregar o carro em locais sem estrutura adequada;

  • Utilize apenas estações públicas certificadas ou pontos de recarga domésticos aprovados.

A energia do futuro exige responsabilidade no presente

O carro elétrico chegou para ficar. Ele é silencioso, econômico, sustentável e representa uma mudança profunda na forma como nos locomovemos. 

Mas para que essa revolução seja segura e duradoura, é preciso agir com responsabilidade.

Carregar um carro elétrico diretamente em um poste, além de crime, é uma atitude perigosa que pode custar caro, em todos os sentidos. É uma prática que compromete a segurança do motorista, da comunidade e do próprio sistema elétrico da cidade.

Se a mobilidade elétrica representa o futuro, então é no presente que precisamos aprender a respeitar a energia, entender suas regras e investir em soluções inteligentes e seguras.

Porque, no fim das contas, a eletricidade move mais do que carros: ela move a sociedade. E fazer isso da forma certa é uma escolha que está em nossas mãos.


Crédito da imagem: Freepik

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